Existem algumas questões que a nutricionista sempre pergunta ao paciente durante uma consulta nutricional, uma delas é “seu intestino funciona bem?” e esse “funcionar bem” para o paciente pode ser simplesmente ele ir à casa de banho todos os dias, no entanto, ir à casa de banho todos os dias nem sempre é sinal de que o intestino funciona mesmo bem. O paciente pode ir à casa de banho todos os dias e mesmo assim ter o intestino preso por exemplo.
Em meu consultório utilizo a escala de Bristol para identificar os diferentes tipos de fezes e com isso saber se o intestino realmente funciona bem.
Na minha prática clínica, consigo identificar três condições onde o intestino não funciona bem apesar de “funcionar todos os dias.”
A primeira condição, chamo carinhosamente de cocozinho de cabrito, é o cocô número 1 da escala de Bristol. Esta é uma condição de obstipação e pode acontecer por simples falta de água ou de fibra, mas também pode acontecer por falta de magnésio ou por alguma sensibilidade alimentar, principalmente à proteína do leite de vaca, devido a um composto chamado betacaseomorfina-7 (BCM-7) derivado da digestão da betacaseína A1, o que promove uma ação opióide no intestino, diminuindo assim a motilidade. Ou, ainda, devido a um hipotireoidismo.
A outra condição que é muito comum é a “comeu aqui, … ali”. Geralmente são fezes diarreicas e acontece quando algum alimento não foi bem digerido, logo não foi absorvido no intestino delgado. Este quadro geralmente acontece devido à falta enzimática ou à falta de ácido biliar, o que impede a devida digestão de algum macronutriente específico. Alguns medicamentos vendidos com o intuito de emagrecimento também podem ocasionar esta categoria de fezes, justamente por impedirem a absorção de algum nutriente, geralmente as gorduras. Também é comum apresentar esta categoria de fezes aqueles pacientes que fizeram a retirada da vesícula recentemente, justamente pela digestão prejudicada das gorduras devido à baixa concentração dos ácidos biliares.
E a terceira condição muito comum é a do “peixinho baiacu”, é aquele paciente que se queixa muito de distensão abdominal, flatulência excessiva, aquele paciente que acorda com a barriga lisa e ao final da tarde apresenta o abdómen distendido. Algumas pacientes, inclusive, dizem que parece barriga de grávida. Esta condição pode ser ocasionada também por um problema na digestão, que pode ser desde uma hipocloridria, ou seja, uma diminuição do ácido estomacal, até uma intolerância ou sensibilidade alimentar. Pessoas portadoras da síndrome do intestino irritável se queixam muito desta condição e vem geralmente associada a dor abdominal.
Agora a boa notícia é que estas condições podem ser melhoradas, na maioria das vezes, ou com uma simples mudança de hábito, ou com a melhora na mastigação, ou mesmo com a associação de enzimas digestivas e até investigação de possíveis intolerâncias.